Friday, March 30, 2007

Ser ou não ser "frio"? Eis a questão.

Quis esperar pelo menos um mês até fazer este post para ter material suficiente para avaliar sem precipitações. Por Portugal a descrição mais comum que se faz da gente do Norte é que são "frios". Acho que praticamente todos já ouviram isto mas a questão é "frios" em que aspecto exactamente. São antipáticos? Não exprimem emoções? Não mostram preocupação pelo próximo? Pois nenhuma destas perguntas merece resposta afirmativa mas talvez a última ainda leve as pessoas a hesitar ligeiramente.
A verdade é que os próprios suecos afirmam que têm um defeito (vá não é defeito, é feitio) que é o facto das pessoas terem de se esforçar verdadeiramente se querem fazer contacto com eles. O que é que isto quer dizer? Pois bem talvez seja melhor com exemplos concretos. Imaginem um estrangeiro num grupo de suecos. Apesar da extrema facilidade que todos eles têm em comunicar em inglês, é bastante comum que falem em sueco ignorando por completo as pessoas que ficam à parte. Na verdade se a pessoa não fizer mm um esforço para entrar na conversa (que por vezes é difícil dado que nem percebe o tópico) eles agem como se o estrangeiro fosse invisível. No entanto a partir do momento que consegues dizer qq coisa em inglês eles naturalmente e sem esforço mudam a linguagem e englobam a pessoa. Mas mesmo assim é preciso continuar a fazer o esforço pois se a participação no tópico não é activa, rapidamente voltam ao sueco e o estrangeiro à estaca zero.
Principalmente para os latinos pode, à primeira vista, parecer que simplesmente não são pessoas simpáticas mas digo-vos que não tem nada que ver com o caso. Está sim relacionado a cultura do país. Os latinos por norma querem fazer conversa constantemente e quando estão na presença de um "outsider" têm a gentileza de chamar para dentro da conversa. Ou seja é o grupo que dá o primeiro passo para a eventual entrada do novo indivíduo, oportunidade essa que ele aproveitará ou não. Para os suecos é o indivíduo que terá de dar o primeiro passo. Acho que muitos latinos têm noção que a maior barreira ao contacto entre eles e outro povo é o baixo nível geral de inglês da população e como tal não percebe como alguém que não tem esse problema não elabora esse contacto por iniciativa própria. Mas apesar do primeiro contacto ser usualmente difícil quando se passa a barreira inicial são super simpáticos. No entanto é uma luta constante que se vai tornando mais fácil com a habituação.
Outro exemplo é o auxílio a alguém. Uma pessoa pode claramente estar com um problema, dúvida, mau estar, etc, mas a não ser que peça explicitamente ajuda, ninguém a irá auxiliar, no entanto quando se pede um favor são regra geral altamente prestáveis. É também típico dos povos latinos oferecerem ajuda se tiverem a disponibilidade para tal quando vêm que alguém poderá ter uma dificuldade. Relativamente aos nórdicos, acho que eles reconhecem a eventual dificuldade mas acham inadequado abordar a pessoa em apuros (excepto em casos extremos claro).
Existem ainda uns suecos que designaremos de "nórdico latinos" que não são nada assim e falam com toda a gente desde o início tal como os latinos. Praticamente todos estes nórdicos viveram pelo menos um ano num país latino (e.g. Portugal, países diversos da América do sul, etc)
Basicamente resume-se a diferenças culturais e não particularmente à simpatia geral da população. Pelo menos por enquanto esta é a minha opinião. Talvez outras pessoas tenham outros inputs. Meninas nórdicas espero os vossos pensamentos sobre a questão.

7 comments:

Susana said...

Ora dissertando sobre o assunto: além do óbvio que "depende das pessoas e que há de tudo" pela experiência que tenho tido em Copenhaga concordo com a tua conclusão final que atribui as "culpas" às questões culturais e vivências de cada um. Tanto já apanhei dinamarqueses que me convidam a ir a casa deles (um "bem" que eles prezam muito) sem me terem conhecido antes e ter estado em amena cavaqueira na sala de estar (foi o caso da minha supervisora) como se fossemos grandes amigas, como já apanhei dinamarqueses que não desenvolvem para além da conversa básica do "estás cá há quanto tempo, fazes o quê? Vais ficar até qd?". Também já me aconteceu (nos pequenos almoços em conjunto à 6ªf no departamento) estar tudo a falar dinamarquês e ignorarem os "estrangeiros", e de facto só se te impuseres é que eles mudam a "cassete" para inglês. Mas isso também é natural, qd é o contrário e somos nós tugas em maioria tb há uma tendência para falarmos português. Em relação ao ajudarem sem pedirmos já não concordo porque já me aconteceu virem ter comigo sem eu ter pedido nada (a minha cara de confusa devia ser bastante evidente!). Um facto também evidente para uma mudança de atitude é o Sol! Os dinamarqueses já são relaxados e nada stressados por natureza, mas com sol é só sorrisos e até gargalhadas... claro que os baldes de cerveja também ajudam! Em resumo: nórdicos não são latinos (são mais comedidos, não gritam, nem dão gargalhadas altas como os espanhóis, italianos ou gregos), mas com sol e uma cervejola as diferenças não são assim tantas ;)

juicebox said...

aqui uma das metades da representação do 'meio-termo' - na 'suécia europeia' - corrobora todo o discurso do ricardo. e acho que a outra metade também.
para confirmar a excepção, existe a minha orientadora: é a sueca mais porreira que já conheci, e já me convidou (e penso que o convite é extensível) a ir passar um dia à casa de praia dos pais dela agora na páscoa (!!!).

polvicia said...

Ricardo li o teu post duas vezes e concordo em pleno com tudo o que dizes. A começar logo no primeiro parágrafo em que, na minha opinião, chegas ao cerne da questão quando perguntas:" Não mostram preocupação pelo próximo?". Tu hesitas na resposta, eu também. Se um mês é suficiente para fazeres esta análise, acho que para responder a esta pergunta vamos precisar de mais uns tempos.
Estou a viver numa residência constituída por vários blocos/ prédios com corredores. No meu corredor há 9 quartos e nele vivem: 5 suecos, 2 suecas, 1 italiano e euzinha…
No primeiro fds não estava quase ninguém, provavelmente porque foram passá-lo a casa. Domingo à noite começaram a aparecer mas só alguns dias depois me começaram a falar. Mea culpa também, se calhar devia ter dito: Olá a todos, eu sou a nova moradora, chamo-me Paula etc. Mas o que é facto é que sou tímida e a inexistência de qualquer curiosidade/abordagem por parte deles me deixou confusa. A ponto de, ao fim de uma semana, estar a pensar: “Não quero ficar aqui, de todo!” No mesmo dia em que decidi isso, já era 5ª ou 6ª, apresentaram-se todos. Passa-se um mês e aqui estou, neste corredor. Não sei explicar porque é que decidi ficar, mas não foi por preguiça de mudar, foi pelo desafio de conhecer pessoas diferentes, talvez.
E sim, são simpáticos, mas muito à maneira deles. Não há cá braços abertos para ninguém. Na cozinha pode ler-se uma note em letras garrafais, para possíveis novos moradores, que diz: “Ask not what the corridor can do for you, but what you can do for the corridor :)”.
Acho que isto expressa bem a cena deles…
Aos poucos vão me incluindo em alguns eventos: começou pelas poker nigths à 5ª, um barbecue no fds… mas é sempre difícil, e a língua…7 vs. 2…
ainda vou ter de “batalhar” muito até Julho!

Boa sorte no teu convívio Nórdico!

p.s:
Ana T: só para lembrar que a tua supervisora, a Karen, já viveu um ano no Brasil =P…

juicebox said...

Karin =) tens razão... esqueço-me disso o tempo todo! aguardam-se novos candidatos para excepção!

Ricardo said...

Gostei muito de ver os vossos comentários sobre a minha análise. Como viste Ana a tua supervisora encaixa-se na descrição de "nórdico latinos". Eu pensei que tinha encontrado uma quase excepção numa colega aqui do lab (a Paula) que até se apresentou espontaneamente quando me viu (embora seja ainda assim recatada demais para se enquadrar no grupo anterior) mas depois descobri que ela conhece muito bem os latinos pois tem diversos amigos espanhois e italianos.
Também vou mudar-me para um corredor exactamente como tu descreveste Paula e confesso que estou mesmo a ver que vou ter a mesma situação (até porque tal como tu sou tímido, especialmente nos primeiros contactos). Mas pronto, uma pessoa tem de tentar ultrapassar estes obstáculos.

Susana said...

Em relação à residência passa-se o mesmo aqui. São 4 pisos, com uns 20 quartos (quase todos individuais, acho) em cada piso/corredor. Mas acho que há mais factores em conta além do "ser nórdico" ou não, até porque talvez metade das pessoas que aqui está não é escandinava. Apesar de gostar muito de ter a kitchinette só para mim, sempre ao meu jeito, acho que faz falta uma divisão comum (cozinha, sala...) que aqui não há... e portanto os conhecimentos são mais difíceis de se fazer. E se calhar, esta organização de quartos e corredores sem zonas comuns de convívio vá de encontro ao estilo nórdico-frio. Ao fim de um mês, continuo só a falar com o Daniel (neozelandes) e com o Sven (alemão), que moram nos quartos ao lado e, agora mais recentemente, com uma espanhola que nem sei o nome e uma chinesa que se chama Janet e mora no andar de cima. Mas são as conversas de corredor/elevador/lavandaria... nada muito além... Aguardo pelo Verão e pelo terraço, onde há barbecue e cadeiras e mesas...

Ana said...

pois, aqui por terras latino-italianas, na minha residencia isto é tudo uma graaande familia..lol Somos 4 pisos e ao todos 112 pessoas. O mais nordico que temos por cá sao 2 belgas q integram facilmente o espirito latino mas q sao os mais "timidos", sem duvida.. O ingles que poderia ser mais frio.. é do mais italiano que pode haver..lol Aqui a falta de interesse n foi notada. Cheguei a um sabado as 22h e nesse mm dia conheci praí umas 15 pessoas q iam ao quarto das "raparigas novas" aprensentar-se... E pronto, é a minha experiencia de ser emigra na europa latina;)

Mas isto é contagiante e acho q ng sobrevive neste pais sendo "frio", simplesmente deixa de ser.. por isso, se quiserem mandar pra ca os nordicos mais nordicos.. estão à vontade;)